Exposições | Passeio Noturno

Movendo-se através das fronteiras entre arte e cinema, experimental e narrativo, fotografia e imagem em movimento, Melissa Dullius & Gustavo Jahn exploram diferentes níveis da experiência sensorial e intelectual. Desestabilizam as noções do real e do imaginário ao mesmo tempo em que fundem as camadas de passado, presente e futuro. Deslocamento e transposição acontecem aqui como estratégias para produzir transformações, e as narrativas instáveis a que dão vazão sugerem que há muitas outras maneiras de comunicação além das normalmente conhecidas. Combinando ficção com arquivo pessoal, reorganizam fantasticamente símbolos de diversas eras e lugares, denotando as veias profundas que unem os indivíduos e as culturas que os formam. Começaram a fazer filmes em Porto Alegre no ano 2000, primeiro em Super 8 e depois em 16mm. Depois de mudarem-se para Berlim em 2006 e juntaram-se ao grupo fundador do coletivo LaborBerlin e.V passaram a incorporar práticas experimentais de filmagem e revelação analógicas ao seu processo criativo. Além de conceber e produzir imagens em movimentos também trabalham como atores, músicos e técnicos de laboratório de cinema, realizando grande parte da pós-produção dos seus filmes. Seus trabalhos tomam forma como filmes, instalações, filmesperformance, fotografias, textos e materiais gráficos.



"O extenso trabalho de Gustavo Jahn e Melissa Dullius no cinema, fotografia, performance, música e texto vem ocupando espaço de centralidade há quase duas décadas na cena experimental do audiovisual brasileiro. Por meio do coletivo DISTRUKTUR, sediado em Berlim, a dupla é detentor de uma prolífica produção multilinguagem que se espraia pelos mais diversos suportes e meios expositivos. Longe de imprimir uma lógica de transparência ou de empreender narrativas lineares, os artistas estão muito mais próximos de um registro opaco a partir do qual a experiência sensorial diz muito mais do que a absorção cognoscível dos temas sobre os quais se debruçam. Um dado importante sobre a produção do coletivo é a materialidade com a qual realizam os seus trabalhos: a película analógica, seja fotográfica ou cinematográfica. O grão, a textura, a cor, enfim, o imprevisível, atravessa a sua obra e lhe confere uma idiossincrasia que dificilmente encontramos em outros artistas brasileiros da sua geração. A grande maioria dos seus trabalhos de curta duração são silenciosos, e prescindem ou de performances com música ao vivo ou de uma apreensão não guiada pelo som, enquanto que os seus trabalhos mais extensos, seja em longa ou curta-metragem, partem da mesma lógica de experimentação nas camadas da imagem e do som, conduzidos pelo mesmo ímpeto de disrupção das normas narrativas tradicionalmente construídas ao se apresentarem como obras multicamadas e repletas de labirintos a serem atravessados. "

Curador
Pedro Azevedo
Pedro Azevedo é Mestre em Estudos de Arte pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, com linha de pesquisa em curadoria, museologia e crítica de arte. Bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade de Fortaleza, atuou como curador do Cinema do Dragão entre 2013 e 2022, onde programou diversas mostras e festivais como a Retroexpectativa e o FAROL. Foi Coordenador de Acervo e Pesquisa do Museu da Imagem e do Som do Ceará entre 2022 e 2023 e atualmente é diretor artístico da plataforma Colo. Enquanto crítico, já colaborou com o Jornal O Povo nas coberturas dos festivais de Berlim e Cannes, além de ser membro da diretoria da Associação brasileira de críticos de cinema (Abraccine), por onde já integrou júris em festivais nacionais, foi autor no livro Curta Brasileiro: 100 Filmes Essenciais e atualmente coordena o projeto de difusão Sessão Abraccine. Também ministrou oficinas de crítica e curadoria para instituições como Unifor, Vila das Artes, Escola Porto Iracema das Artes e MIS-CE, além de ter sido roteirista e apresentador do TVCine Dragão, programa de debates exibido pela TV Ceará entre 2015 e 2017. Programou a mostra À Nordeste - Cinema de Reinvenção, como parte da exposição À Nordeste, no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, e atuou como curador convidado da mostra Cinema Brasileiro Anos 2010: 10 Olhares. Também integrou a equipe de curadoria do Rastro - Festival de Cinema Documentário em 2021 e a comissão de seleção da mostra competitiva nacional do 55º Festival de Brasília do cinema brasileiro em 2022.