Notícias | Museu da Imagem e do Som celebra Abril Indígena com duas novas exposições temáticas 

20/04/2025

Museu da Imagem e do Som celebra Abril Indígena com duas novas exposições temáticas 

 

 

Em celebração ao Abril Indígena, mês que promove a valorização e direitos dos povos originários, o Museu da Imagem e do Som do Ceará tem o prazer de anunciar a chegada de duas novas exposições que trarão à tona a riqueza cultural e a resistência das comunidades indígenas: “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, traz fotos realizadas pelo fotógrafo japonês Hiromi Nagakura com curadoria de Krenak, e “Re-floresta”, obra audiovisual imersiva da artista Roberta Carvalho. O lançamento de ambas ocorrerá no dia 26 de abril, às 17h, na praça do MIS. Na ocasião, haverá também discotecagem do DJ Rapha Anacé às 17h30 e show da cantora Brisa Flow às 18h30. O evento contará com a presença das curadoras assistentes da exposição de Nagakura, Angela Pappiani e Eliza Otsuka; Gabriela Moulin, diretora executiva do Instituto Tomie Ohtake; e da artista Roberta Carvalho. O MIS integra a Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará, com gestão parceira do Instituto Mirante de Cultura e Arte. 

Exposição fotográfica “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak” 

O Museu da Imagem e do Som do Ceará acolhe a exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, resultado de uma parceria com o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. A mostra é um encontro potente entre imagem e memória, arte e resistência, território e ancestralidade, fruto de um diálogo sensível entre o fotógrafo japonês Hiromi Nagakura e o líder indígena brasileiro Ailton Krenak, que é ambientalista, escritor e uma das principais vozes do saber indígena na atualidade. 

Com curadoria de Ailton Krenak, a exposição traz uma seleção única de registros realizados pelo grande fotógrafo japonês entre 1993 e 1997 por meio de diversas expedições aos estados do Acre, Roraima, Mato Grosso, Maranhão, São Paulo, Pará e Amazonas. Foram sete viagens pela Amazônia, algumas durando até 40 dias. Juntos, Krenak e Nagakura puderam aproximar-se, conviver e registrar a cultura dos povos Krikati, Gavião, Xavante, Huni Kuin, Yawanawá, Ashaninka e Yanomami. As imagens revelam os modos de vida, os gestos, os cantos e os corpos dos povos originários da Amazônia brasileira e do cerrado.

“No Brasil, Nagakura-san buscou os povos ancestrais, seres míticos em sua imaginação, que estavam na década de 1990 – e ainda estão – em constante risco de perder as bases de sua existência. Povos que desafiam os conceitos de tempo, riqueza, tecnologia, individualidade, conexão, espiritualidade, natureza. Etnias com territórios, idiomas, história, arte e culturas tão diversos, mas que têm em comum uma forma de estar no mundo, com beleza e humor, com respeito e plena integração à natureza, vivendo com leveza para não deixarem marcas sobre a terra”, afirma a curadora assistente Angela Pappiani. 

Para Priscyla Gomes, curadora assistente da exposição ocorrida em São Paulo em 2023, “as imagens de Nagakura ganham, gradativamente, uma dimensão política pautada não pela exposição das fragilidades desses povos frente aos desmandos sofridos nas décadas anteriores, mas pela apologia à riqueza de seus costumes, ritos, vestimentas e práticas. O fotógrafo dá vida a uma rica iconografia desses povos evidenciando a peculiaridade de cada cultura. É sua lenta e sensível imersão nesses contextos que nos agracia com imagens potentes e singelas, muitas vezes dedicadas a questões das mais prosaicas, como o ciclo das águas, a rotina das crianças, o preparo da caiçuma, as festas e a tecelagem. A correlação de olhares e sua proximidade com os retratados denotam a clara familiaridade que o fotógrafo vai adquirindo naqueles contextos”.

A mostra, que já passou pelas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, chega agora à Fortaleza com a possibilidade singular de percorrer a potente trajetória de Hiromi Nagakura no fotojornalismo internacional.

Integrando a programação do Abril Indígena no MIS, esta exposição reafirma o compromisso do Museu da Imagem e do Som do Ceará com a construção de espaços em que a imagem sirva à escuta de vozes que persistem, que sonham, que resistem. 

O encontro de Nagakura e Krenak

Em agosto de 1993 deu-se o primeiro de muitos encontros que uniriam dois caminhos aparentemente tão diversos. Hiromi Nagakura, fotógrafo japonês, havia chegado recentemente ao Brasil para mais uma de suas viagens. Ainda não conhecia pessoalmente o ativista indígena Ailton Krenak, mas ao tomar contato com as imagens do discurso emblemático do futuro amigo na Assembleia Constituinte (em 4 de setembro de 1987), almejou tê-lo como parceiro e interlocutor em sua busca pelas diferentes etnias dos povos originários brasileiros.

A curadora assistente Angela Pappiani explica a relação entre os dois em seu texto curatorial: “Para esse caminho que penetrava nas florestas, rios e cerrados, Nagakura-san escolheu um guia, uma pessoa que pudesse apresentá-lo aos lugares e seus habitantes, e que também pudesse traduzir o pensamento, a filosofia, a poesia dos povos originários lhe permitindo o diálogo fantástico com todos os seres: gentes, bichos, árvores, montanhas, céu e terra.”

Hiromi Nagakura

Hiromi Nagakura nasceu em 1952 na cidade de Kushiro, ao norte da ilha de Hokkaido, no Japão. Desde criança, amou gente e a natureza, interessado em pessoas e culturas de outros lugares do mundo. Sentia-se atraído pelo novo, pelo desconhecido. Viajou para destinos diversos, visitou as ilhas do Pacífico Sul, entrou em contato com povos nômades do Afeganistão. Foi então que sentiu a necessidade de documentar seus encontros e começou a praticar e se aperfeiçoar nas técnicas da fotografia. Para ele, desde o início, a fotografia sempre foi um instrumento para se relacionar com o mundo e a diversidade de culturas, paisagens e pensamentos. 

Formou-se em direito, mas seguiu a carreira de fotógrafo. Trabalhou na agência noticiosa Jiji Press porque admirava os fotógrafos reconhecidos por seus trabalhos de cobertura de guerras. Em 1979, com 27 anos, Nagakura decidiu tornar-se fotojornalista independente, caminho que acabou levando-o a conhecer a África do Sul, Zimbábue, União Soviética, Afeganistão, Turquia, Líbano, El Salvador, Bolívia, Peru, Brasil, Indonésia, México, Groenlândia e vários outros países, em todos os continentes. 

Realizou centenas de viagens e exposições, publicou dezenas de livros, foi personagem de inúmeros documentários, escreveu reportagens, ministrou oficinas e palestras, recebeu prêmios. Sua obra, já reconhecida no Japão, é exposta pela primeira vez no Brasil na exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, com curadoria desse amigo e personagem de seu trabalho. 

Ailton Krenak

Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu em 1953 no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, quando o povo Krenak vivia no exílio, expulso de seu território tradicional por invasores que ocuparam e depredaram as matas densas às margens do Watu, como o povo originário chama seu avô-rio. 

Depois, nos anos de ditadura, a antiga aldeia Krenak foi transformada em prisão indígena, testemunha da violência contra os povos que insistiam em desafiar a ordem imposta vivendo de um modo diferente. 

Ailton viveu parte de sua vida em São Paulo, onde estudou e começou sua militância no movimento que surgia no final dos anos 1970, reunindo indígenas de muitas etnias em torno de uma luta comum por direitos. 

Sua imagem pintando o rosto de preto no Congresso Nacional tornou-se símbolo da resistência indígena na Constituinte. Coordenou a União das Nações Indígenas, o Núcleo de Cultura Indígena, o Centro de Pesquisa Indígena, a Embaixada dos Povos da Floresta e a Aliança dos Povos da Floresta ao lado de seringueiros, extrativistas e ribeirinhos pela vida da (e com a) Floresta. 

Regressou nos anos 2000 a seu território, que ajudara a consolidar em 1999. Hoje vive às margens do Watu, ferido pela lama do rompimento da barragem de dejetos da Samarco em 2015. Ali o povo se fortalece, rememora a língua e os ritos, restabelece a vida. 

Nos últimos anos, Ailton Krenak tem se dedicado à manifestação do pensamento através do som e do poder sagrado das palavras, refletindo sobre temas que afetam a todas e todos nós, seres vivos de todas as humanidades, companheiros da mesma canoa Terra que navega no firmamento. 

Suas palavras estão registradas em livros que nos aproximam da cosmologia dos povos originários e confrontam nossa vida cotidiana. É autor dos livros “Ideias para Adiar o fim do mundo” (Companhia das Letras, 2019), “O amanhã não está à venda” (Companhia das Letras, 2020), “A vida não é útil” (Companhia das Letras, 2020), “Futuro ancestral” (Companhia das Letras, 2022) e "Um rio um pássaro" (Dantes Editora, 2023). Em 2022, foi eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras.

Obra audiovisual imersiva “Re-floresta”, de Roberta Carvalho

A exposição "Re-floresta" propõe uma experiência imersiva que atravessa os caminhos sensíveis da artista amazônida Roberta Carvalho, cuja trajetória de mais de 15 anos entrelaça arte, natureza e tecnologia como forma de escuta, reflexão e transformação. Sua poética emerge das margens dos rios, das trocas com comunidades ribeirinhas e povos originários, e da atenção às camadas sutis dos territórios que habitamos e compartilhamos. Por meio da imagem, do som e da projeção, Roberta desenvolve uma linguagem singular que amplia o campo da arte digital ao propor um olhar crítico e afetivo sobre a Amazônia – não como um lugar fixo ou idealizado, mas como um organismo pulsante, em constante criação e resistência.

Com obras que transitam entre o videomapping, as instalações imersivas e as intervenções urbanas, a artista investe na potência das tecnologias como ferramenta de reconexão e visibilidade. Ao mesmo tempo, tensiona os limites entre o humano e o não humano, evocando presenças, saberes e modos de vida muitas vezes silenciados. O uso da tecnologia em sua obra é ferramenta de escuta – uma forma de amplificar vozes, fortalecer memórias e imaginar futuros enraizados em outras cosmologias.

No centro desta exposição, está uma obra inédita do premiado projeto Symbiosis, protagonizada por uma das maiores lideranças indígenas do mundo: o Cacique Raoni. Pela primeira vez, sua imagem é transfigurada poeticamente em árvore, símbolo de resistência, sabedoria e força vital da floresta. A criação é resultado de um encontro entre Roberta e Raoni, onde a artista propôs uma fusão visual entre o corpo do líder e a vegetação nativa – gesto que reafirma a inseparabilidade entre os povos originários e os territórios que habitam, protegem e representam.

"Re-floresta" é um convite a rever nossas relações com a floresta, não como paisagem exótica ou distante, mas como presença viva, política e cultural. Uma floresta que fala, que sente e que ensina. Uma floresta que reexiste — e que, pela arte, se reinventa.

Roberta Carvalho

Roberta Carvalho é artista visual, multimídia e diretora artística. Amazônida nascida em Belém do Pará, sua atuação converge tecnologia, questões socioambientais e engajamento político-cultural em favor da Amazônia, com criações centradas em narrativas que partem das sabedorias ancestrais, reivindicações ambientais e da relação com comunidades tradicionais. Desenvolve trabalhos envolvendo linguagens visuais e tecnológicas, transitando entre suportes como vídeo, intervenção urbana, projeção, realidades mistas, instalação e projetos interativos. Formada em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Pará, fez mestrado em Artes Visuais pela Universidade Estadual Paulista. Foi vencedora do Prêmio FUNARTE Mulheres nas Artes Visuais. Participou de várias exposições e projetos nacionais e internacionais, como Brasil Futuro: As Formas da Democracia, Festival do Futuro, HEALING - Life in Balance”, em Frankfurt, Festival On_OFF 2019 - Itaú Cultural, Virada Cultural de São Paulo, Amazon Connection, Arte Pará, Visualismo – Arte, Tecnologia, Cidade, Festival Multiplicidade, entre outros. Suas obras integram os acervos do Museu de Arte Contemporânea Casa das 11 Janelas (PA), Museu de Arte do Rio (MAR) e Museu da Universidade Federal do Pará. É criadora do Festival Amazônia Mapping, um projeto pioneiro de arte e tecnologia no Brasil. No Rock in Rio 2022, foi diretora artística e curadora da NAVE, uma instalação imersiva que levou mais de 50 artistas amazônidas para o maior festival de música do mundo. Foi curadora-adjunta da exposição Brasil Futuro: as Formas da Democracia (na edição Pará).

Programação de abertura

Na noite de abertura das exposições, haverá ainda discotecagem do DJ Rapha Anacé às 17h30 e show da cantora Brisa Flow às 18h30, ambos na praça do MIS. O evento contará com a presença das curadoras assistentes da exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, Angela Pappiani e Eliza Otsuka; Gabriela Moulin, diretora executiva do Instituto Tomie Ohtake; e da artista Roberta Carvalho, realizadora de “Re-floresta”.  

DJ Rapha Anacé

DJ Rapha Anacé apresentará um set único, onde fusiona gravações feitas nas aldeias e comunidades indígenas com músicas populares brasileiras, criando uma atmosfera envolvente e diversificada. Nesta experiência sonora, ritmos ancestrais se encontram com batidas eletrônicas contemporâneas, proporcionando uma imersão cultural que convida tanto à dança quanto à reflexão. Além do entretenimento, a apresentação busca conscientizar o público sobre a riqueza e a importância da preservação das expressões musicais tradicionais. No set, Rapha incluirá brasilidades e músicas tradicionais brasileiras, ampliando a conexão entre passado e futuro, ancestralidade e inovação. Uma oportunidade imperdível de sentir a força da música indígena e brasileira em uma celebração vibrante e inesquecível. 

Rapha Anacé é um jovem DJ e idealizador do projeto Tecno Tapera, uma iniciativa que combina os sons ancestrais dos Anacés, povo indígena cearense, com batidas eletrônicas. Sua jornada artística e política busca fortalecer a identidade e memória da comunidade, revitalizando tradições através da música. Influenciado por ritmos paraenses e pela cultura cearense, Rapha encontrou na música um meio de reconectar-se com suas raízes indígenas, desenvolvendo o Tecno Tapera como uma forma de preservar e compartilhar a cultura ancestral. O projeto envolve a gravação e remixagem de cantos e músicas tradicionais, com aprovação das lideranças e troncos velhos da aldeia Anacé. Além disso, Rapha utiliza sua arte para promover a conscientização política, abordando temas como a demarcação de terras indígenas e a luta contra o apagamento cultural. Com apresentações em diversos eventos no Ceará e no Brasil, incluindo o Festival Brasil é Terra Indígena em Brasília, Rapha busca inspirar a juventude indígena, fortalecer a comunidade e garantir que as futuras gerações se orgulhem de suas raízes. Suas conquistas refletem não apenas uma expressão musical, mas também um compromisso com a preservação da cultura e identidade indígenas, proporcionando um legado significativo para as próximas gerações. 

Brisa Flow

Brisa de La Cordillera, mais conhecida como Brisa Flow, é uma cantora que mistura seu rap com cantos ancestrais, jazz, eletrônico e neo/soul. Atua no cenário artístico também como produtora musical, performer e pesquisadora. É arte educadora licenciada em Música e MC da cultura hip hop. Filha de artesãos araucanos, pesquisa e defende a música indígena contemporânea e o rap como ferramentas necessárias para combater o epistemicídio. A artista tem três álbuns lançados. 

Radicada em São Paulo mas criada em Minas Gerais, Brisa de La Cordillera recebeu influências desde criança da música e cultura dos povos andinos através dos seus pais, artistas chilenos. Sua música traz mensagem sobre sua vivência de mulher ameríndia periférica na América Latina. Foi a primeira artista indígena a se apresentar no Lollapalooza Brasil, em 2023.  

 

SERVIÇO:

MUSEU DA IMAGEM E DO SOM DO CEARÁ

Endereço: Av. Barão de Studart, 410. Meireles.

Funcionamento: 

  • Quarta, quinta e domingo: 10h às 18h, com acesso às exposições até 17h30. 

  • Sexta e sábado: 13h às 20h, com acesso às exposições até 19h30. 

 

Entrada: gratuita.

Acompanhe a programação: @mis_ceara | www.mis-ce.org.br 

 

Abril Indígena no MIS

Lançamentos das exposições:

  • “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”

  • “Re-floresta”, de Roberta Carvalho

Data: 26 de abril

Horário: 

17h - Solenidade de abertura 

17h30 - Discotecagem do DJ Rapha Anacé

18h30 - Show de Brisa Flow

Local: praça do MIS

Tags Relacionadas

Ailton Krenak; Hiromi Nagakura; Instituto Tomie Ohtake; Re-floresta; Roberta Carvalho; Abril Indígena; MIS
Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.