Seminário sobre museologia social
O Museu da Imagem e do Som Chico Albuquerque realizou nos dias 28 e 29 de março o Seminário de Museus e Museologia no Tempo Presente. O evento teve como objetivo refletir criticamente sobre as dimensões poéticas, políticas e sociais dos museus e da museologia na contemporaneidade e como essas transformações reverberam no fazer cotidiano e nos processos de musealização desenvolvidos pelo Museu desde sua reinauguração em março de 2022. O seminário aconteceu das 9h às 18h, na sala imersiva (andar -2 do Anexo).
Quais os desafios dos Museus e da Museologia no tempo presente? Qual deve ser o lugar dos Museus diante das múltiplas demandas dos grupos historicamente silenciados e das questões sociais, políticas e ecológicas que atravessam o mundo contemporâneo? É possível produzir narrativas e conhecimentos museais de maneira partilhada, com respeito e valorização das diferentes vozes, saberes e epistemologias? Quais as contribuições que a Museologia Social poderia nos oferecer diante desses dilemas? E como todas essas questões atravessam o fazer cotidiano e as práticas museológicas do MIS – CE?
Para discutir estas e outras questões, o Seminário de Museus e Museologia no Tempo Presente convidou diversos intelectuais, pesquisadores do campo da museologia social, educadores e representantes de experiências museais de base comunitária, de várias partes do Brasil, que carregam em si a potência de unir e reverberar uma diversidade de vozes que se unem pelo desejo de memória, pela valorização de identidades, territórios e patrimônios. Estarão presentes nomes como Mário Chagas (Diretor do Museu da República), Suzenalson Kanindé (Museu dos Kanindé), Joseania Miranda (Pesquisadora do Museu Afro-Brasileiro da UFBA), Cláudia Rose (Museu da Maré - RJ), Fernanda Castro (Presidenta do IBRAM), entre muitos outros representantes das mais diversas instituições museais do Brasil. A programação foi dividida em eixos temáticos que trouxeram diversos desafios enfrentados pelos museus e pela museologia sob a práxis da museologia social.
Contextualizando a museologia social
Desde a década de 1960, uma efervescência teórica, social e cultural proporcionou uma reflexão profunda e transformadora das práticas, das teorias e do lugar social até então ocupado pelos museus e pela Museologia no mundo contemporâneo.
Esse deslocamento de paradigma abriu a possibilidade de se repensar as estruturas, as narrativas e o saber fazer museal clássico que historicamente fez dos museus uma instituição reprodutora de colonialidades a serviço da formação dos Estados Nacionais, da naturalização de hierarquias territoriais, raciais, culturais e epistêmicas.
Pensar a preservação do patrimônio cultural de forma integrada e como processo educativo voltado para o exercício da cidadania e da transformação social. Priorizar a participação ativa das comunidades, grupos e organizações da sociedade civil nos processos museológicos desenvolvidos pela instituição; refletir sobre a função social e atuação do museu junto aos territórios em que estão inseridos; estabelecer compromissos éticos e políticos com as questões sociais do seu tempo; são exemplos das dimensões que passam a fazer parte das preocupações do pensamento museal e que favorecem o surgimento da denominada nova museologia.
A Mesa de Santiago do Chile (1972) e o Movimento Internacional para uma Nova Museologia -MINOM (1984) são marcos importantes e que referenciam esta significativa mudança dos museus e da Museologia contemporânea.
No Brasil, as inquietações trazidas pelo movimento da nova museologia encontram terreno fértil e diversas iniciativas passaram a reivindicar para si e para seus processos museológicos esse novo paradigma museal. Uma notável mobilização social que resultou no desenvolvimento de um conjunto de experiências de base comunitária no campo do patrimônio e dos museus. Toda essa movimentação contribuiu para o nascimento e consolidação nas últimas décadas de uma inovadora práxis museológica denominada de Museologia Social.
A partir dos anos 2000 essa perspectiva crítica e política em torno dos museus e da museologia teve uma correspondência prática com as políticas de Cultura, quando da criação do Programa Pontos de Memória (2009). De modo inaugural o Estado brasileiro assumia a sua responsabilidade pela memória social que historicamente foi esquecida pelos museus: do povo pobre, negro, indígena, LGBTQIAP+, das mulheres, ribeirinhos e populações historicamente marginalizadas.