Exposições | Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak

O Museu da Imagem e do Som do Ceará acolhe a exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, resultado de uma parceria com o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. A mostra é um encontro potente entre imagem e memória, arte e resistência, território e ancestralidade, fruto de um diálogo sensível entre o fotógrafo japonês Hiromi Nagakura e o líder indígena brasileiro Ailton Krenak, que é ambientalista, escritor e uma das principais vozes do saber indígena na atualidade. 

Com curadoria de Ailton Krenak, a exposição traz uma seleção única de registros realizados pelo grande fotógrafo japonês entre 1993 e 1997 por meio de diversas expedições aos estados do Acre, Roraima, Mato Grosso, Maranhão, São Paulo, Pará e Amazonas. Foram sete viagens pela Amazônia, algumas durando até 40 dias. Juntos, Krenak e Nagakura puderam aproximar-se, conviver e registrar a cultura dos povos Krikati, Gavião, Xavante, Huni Kuin, Yawanawá, Ashaninka e Yanomami. As imagens revelam os modos de vida, os gestos, os cantos e os corpos dos povos originários da Amazônia brasileira e do cerrado.

A mostra, que já passou pelas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, chega agora à Fortaleza com a possibilidade singular de percorrer a potente trajetória de Hiromi Nagakura no fotojornalismo internacional.

Integrando a programação do Abril Indígena no MIS, esta exposição reafirma o compromisso do Museu da Imagem e do Som do Ceará com a construção de espaços em que a imagem sirva à escuta de vozes que persistem, que sonham, que resistem. 

 

Hiromi Nagakura

 

Hiromi Nagakura nasceu em 1952, no Japão. Viajou para destinos diversos, visitou as ilhas do Pacífico Sul, entrou em contato com povos nômades do Afeganistão. Foi então que sentiu a necessidade de documentar seus encontros e começou a praticar e se aperfeiçoar nas técnicas da fotografia. Para ele, a fotografia sempre foi um instrumento para se relacionar com o mundo e a diversidade de culturas, paisagens e pensamentos. 

 

Seguiu a carreira de fotógrafo e trabalhou na agência noticiosa Jiji Press. Em 1979, decidiu tornar-se fotojornalista independente, caminho que acabou levando-o a conhecer a África do Sul, Zimbábue, União Soviética, Afeganistão, Turquia, Líbano, El Salvador, Bolívia, Peru, Brasil, Indonésia, México, Groenlândia e vários outros países, em todos os continentes. 

 

Realizou centenas de viagens e exposições, publicou dezenas de livros, foi personagem de inúmeros documentários, escreveu reportagens, ministrou oficinas e palestras, recebeu prêmios. Sua obra, já reconhecida no Japão, é exposta pela primeira vez no Brasil na exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”.  

 

Ailton Krenak

 

Ailton Krenak nasceu em 1953 no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, quando o povo Krenak vivia no exílio, expulso de seu território tradicional por invasores que ocuparam e depredaram as matas densas às margens do Watu, como o povo originário chama seu avô-rio. Depois, nos anos de ditadura, a antiga aldeia Krenak foi transformada em prisão indígena, testemunha da violência contra os povos que insistiam em desafiar a ordem imposta vivendo de um modo diferente. 

 

Viveu parte de sua vida em São Paulo, onde estudou e começou sua militância no movimento que surgia no final dos anos 1970, reunindo indígenas de muitas etnias em torno de uma luta comum por direitos. 

 

Regressou nos anos 2000 a seu território, que ajudara a consolidar em 1999. Hoje vive às margens do Watu, ferido pela lama do rompimento da barragem de dejetos da Samarco em 2015. Ali o povo se fortalece, rememora a língua e os ritos, restabelece a vida. 

 

Suas palavras estão registradas em livros que nos aproximam da cosmologia dos povos originários e confrontam nossa vida cotidiana. É autor dos livros “Ideias para Adiar o fim do mundo” (2019), “O amanhã não está à venda” (2020), “A vida não é útil” (2020), “Futuro ancestral” (2022) e "Um rio um pássaro" (2023). Em 2022, foi eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. Parte desses livros você encontra na Biblioteca do MIS.